====== Introdução ====== Em geral, intervalos de confiança são a forma mais informativa de apresentar os achados pricipais de um estudo. Contudo, algumas vezes existe um particular interesse em decidir sobre a verdade ou não de uma hipótese específica (se dois grupos têm a mesma média ou não, ou se o parâmetro populacional tem um valor em particular ou não). Os [[http://leg.ufpr.br/~silvia/CE055/node53.html|testes de hipóteses]] fornecem-nos uma estrutura para que façamos isto. ===== Teste para a Média Populacional ===== Vamos desenvolver as idéias gerais de teste de hipótese supondo, inicialmente, que o modelo Normal é adequado para os dados. Veja o exemplo a seguir retirado de Magalhães e Lima (2004): //** Exemplo 8.1**: Suponha que, entre pessoas sadias, a concentração de certa substância no sangue se comporta segundo um modelo Normal com média 14 unidades/ml e desvio padrão 6 unidades/ml. Pessoas sofrendo de uma doença específica têm a concentração média da substância alterada para 18 unidades/ml. Admitimos que o modelo Normal, com desvio padrão 6 unidades/ml continua representando de forma adequada a concentração da substância em pessoas com a doença.// Desejamos averiguar se um certo tratamento, proposto para combater a doença é eficaz. Uma amostra aleatória de tamanho //n=30// é selecionada entre indivíduos doentes que foram submetidos ao tratamento. Sabemos que para //i=1,2,...,30//, temos //Xi~N(μ,36)//, sendo μ=14 ou μ=18 dependendo do tratamento ser eficiente ou não. Caso a amostra de 30 valores forneça valor médio de concentração alto e "próximo" de 18, teremos evidências de que o tratamento não é eficaz, ao passo que um valor baixo e "próximo" de 14 unidades/ml nos revelaria crer que o tratamento apresenta resultados satisfatórios. Isto é, se o tratamento for eficaz, então os 30 indivíduos podem ser vistos como membros da população com concentração modelada por uma //N(14,36)//, caso contrário, eles pertencerão à população //N(18,36)//. No exemplo acima, o interesse consiste em testar se a média populacional μ é igual a 14, caso em que os indivíduos pertencem à população de sadios, contra a alternativa de ser igual a 18, valor que corresponde à população de doentes. Como estamos tratando com a média populacional, utilizaremos, no teste a média amostral \bar{X}, um estimador não-viciado e consistente de μ. Será baseado no valor observado de \bar{X}, denotado por \bar{x}_{obs}, que tomaremos nossa decisão a respeito da eficácia da tratamento proposto. Pelas suposições feitas acima, a concentração da substância segue um modelo Normal com desvio padrão de 6 unidades/ml. Então, para o tamanho de amostra igual a 30, a média amostral terá distribuição //N(μ,36/30)//. Um critério que pode ser utilizado, para decidir sobre o valor de μ, é determinar um //valor crítico//, digamos x_c, tal que se \bar{X}>x_c, concluímos que a amostra pertence à população com média μ=18, ou seja, o tratamento não é eficaz. Por outro lado, quando \bar{X} \leq x_c, concluímos que a amostra pertence à população com média μ=14, sendo o tratamento considerado eficaz. ==== Erros de Decisão ==== É importante ter em mente que, para a argumentação anterior ficar completa, precisamos determinar o valor x_c e quantificar os erros associados às possíveis conclusões. Observe que, sendo \bar{X} uma variável aleatória, corremos o risco de concluir incorretamente que o tratamento é eficaz. Ou, de modo recíproco, decidir que o tratamento não é eficiente quando ele é. As duas hipóteses sobre a eficácia do tratamento são denotadas por //H0// e //Ha// e, usualmente, denominadas //hipótese nula// e //hipótese alternativa//. //H0//: O tratamento não é eficaz //Ha//: O tratamento é eficaz Essas hipóteses correspondem aos diferentes valores do parâmetro μ e, assim, podemos reescrevê-las como: //H0//: μ=18 //versus Ha//: μ=14 (teste de hipóteses simples) No caso do tratamento ser eficaz, é razoável assumirmos que ele foi capaz de fazer com que os indivíduos da amostra mudassem para uma população cuja média é inferior a 18, caso contrário, se o tratamento é ineficaz, μ não se alteraria. Assim, as hipóteses de interesse seriam escritas como //H0//: μ=18 //versus Ha//: μ<18 (teste de hipóteses unilateral) Para verificarmos se o tratamento produz algum efeito, seja ele benéfico (μ<18) ou danoso (μ>18), devemos construir um teste bilateral: //H0//: μ=18 //versus Ha//: μ≠18 (teste de hipóteses bilateral) Por conveniência técnica deixamos sempre a igualdade na hipótese nula. Os dois erros que podem ser cometidos ao se realizar um teste de hipóteses são: * //Erro do Tipo I//: Rejeitar a hipótese //H0//, quando //H0// é verdadeira, e * //Erro do Tipo II//: Não rejeitar a hipótese //H0//, quando //H0// é falsa. Denotamos * \alpha=P(\mbox{Erro Tipo I})=P(\mbox{Rej} H_0|H_0 \mbox{Verdadeira}) * \beta=P(\mbox{Erro Tipo II})=P(\mbox{Não Rej} H_0|H_0 \mbox{Falsa}) Considerando as hipóteses //H0//: μ=18 //versus Ha//: μ<18, temos a seguinte interpretação para os erros: * \alpha=P(\mbox{concluir que o tratamento é eficaz qdo na verdade ele não é}) * \beta=P(\mbox{concluir que o tratamento não pe eficaz qdo na verdade ele é}) A situação ideal é aquela em que ambas as probabilidades, α e β, são próximas de zero. Entretanto, à medida que diminuímos α, β tende a aumentar. {{disciplinas:ce067:semana12:figpag249.jpg|Representação gráfica de α e β}} Veja como dependendo do posicionamento de x_c, a diminuição de α implica num aumento de β. Levando isso em conta, devemos cuidar para que, ao definir as hipóteses, o erro mais importante a ser evitado seja o erro do tipo I. Á sua probabilidade α damos o nome de //nível de significância// do teste. ==== Encontrando o valor crítico ==== Supondo α conhecido, vamos descrever como determinar o valor crítico x_c. Inicialmente, note que \alpha=P(\mbox{erro tipo I})=P(\mbox{rej} H_0|H_0 \mbox{Verdadeira}) =P(\bar{X} =P(\frac{\bar{X}-\mu}{\sigma/\sqrt{n}} < \frac{x_c-18}{6/\sqrt{30}}) =P(Z com //Z~N(0,1)//. Portanto, dado α obtemos //zc// na tabela da Normal e calculamos //xc// da seguinte forma: z_c=\frac{x_c-18}{6/\sqrt{30}} \Rightarrow x_c=18+z_c\frac{6}{\sqrt{30}} Por exemplo, para α=0,05 temos 0,05=P(Z logo x_c=18-1,64 \frac{6}{\sqrt{30}}=16,20. Uma vez colhida a amostra, se a estimativa \bar{x}_{obs}<16,20; rejeitamos a hipótese nula concluindo que o tratamento é eficaz. A região dada pelo conjunto dos números reais menores que 16,20 é denominada de //Região de Rejeição// ou //Região Crítica// e representada por //RC//. RC=\{x \in R:x<16,20\} Se a amostra obtida forneceu a estimativa \bar{x}_{obs}=16,04; que pertence à RC, rejeitamos //H0// ao nível de significância de α=0,05. A construção de testes de hipóteses bilaterais é feita de maneira similar à apresentada para o caso unilateral, exceto que, agora, devemos considerar uma Região de Rejeição composta de duas partes disjuntas. Para exemplificar, suponha que μ0 é uma constante conhecida e que as hipóteses nula e alternativa são expressas como //H0//: μ=μ0 //versus Ha//: μ≠μ0 A Região Crítica será dada por RC=\{x \in R:xx_{c_2}\} e, para um valor α fixado, determinamos os números x_{c_1} e x_{c_2} de modo que P(\bar{X}x_{c_2})=\alpha Dada a simetria da densidade Normal, distribuímos a massa α igualmente entre as duas partes da Região de Rejeição. Isto é, P(\bar{X}x_{c_2})=\alpha/2 ==== Sumário ==== Sumário das estapas para a realização de um teste de hipóteses: - Estabelecer as hipóteses nula e alternativa - Definir a forma da região crítica, com base na hipótese alternativa - Identificar a distribuição do estimador e obter sua estimativa - Fixar α e obter a região crítica - Concluir o teste com base na estimativa e na região crítica O exemplo 8.4 de Magalhães e Lima (2004) ilustra as etapas acima descritas com um teste para uma proporção. Nos testes desenvolvidos nesta seção, duas suposições básicas foram feitas: * a variável aleatória de interesse na população segue o modelo Normal * a variância é conhecida A ausência de normalidade pode ser contornada com o auxílio do Teorema Central do Limite o qual garante que, para amostras grandes, a média amostral tem distribuição Normal. Nestes casos praticamente não haverá alteração nos procedimentos que estudamos até agora, pois continuamos a usar a densidade Normal para estabelecer a região crítica. Entretanto, se a variância for desconhecida, ela precisará ser estimada e precisaremos de uma nova distribuição para \bar{X}. ===== Teste para a Média com Variância Desconhecida ===== Inicialmente, manteremos a suposição de que a variável aleatória de interesse tem distribuição Normal. Se o desvio-padrão é desconhecido, ele precisa ser estimado. Supondo que nossa amostra aleatória seja representada pelo vetor de variáveis aleatórias (X_1,X_2,\cdots,X_n), todas elas com densidade Normal de média μ e variância σ2. Vamos utilizar o "melhor" estimador que conhecemos para σ2, a variância amostral S^2=(\sum X_i^2-n\bar{X}^2)/(n-1). Definindo agora a variável padronizada T=\frac{\bar{X}-\mu}{\sqrt{S^2/n}}=\frac{\bar{X}-\mu}{S/\sqrt{n}} vemos que //T// também é uma variável aleatória. Entretanto, apesar de \bar{X} ter distribuição Normal, denominador envolve a variável aleatória S^2, que fará com que a função densidade de //T// seja diferente da Normal, afinal //T// surge a partir da razão entre duas variáveis aleatórias \bar{x} e S^2, respectivamente. Esta nova densidade, que pode ser deduzida teoricamente, é denominada //t de Student// e seu parâmetro tem o nome de //graus de liberdade//, neste caso correspondendo ao tamanho da amostra aleatória subtraído de 1. A medida em que o tamanho da amostra aumenta a distribuição da variável //T// se aproxima da distribuição de //Z//, a normal padronizada. Isto ocorrem em conseq\"uência das propriedades de S^2 que é não viciado e consistente para \sigma^2. Este resultado pode ser expresso como: \dfrac{\bar{X}-\mu}{\frac{S}{\sqrt{n}}} \sim t_{(n-1)} \rightarrow_{n\rightarrow \infty} \dfrac{\bar{X}-\mu}{\frac{\sigma}{\sqrt{n}}}\sim Normal(0,1) A notação utilizada será t_{(n-1)} e, devido à complexidade da sua função densidade, as probabilidades são obtidas de tabelas construídas numericamente. A exemplo da Normal, o modelo //t-Student// tem densidade em forma de sino, entretanto, as caudas tem maior massa que a //N(0,1)//. //*Exemplo 8.5* Deseja-se investigar alteração no consumo de oxigênio em decorrência de uma certa moléstia que ataca o rim. Para indivíduos sadios, admite-se que esse consumo tem distribuição normal com média 12 cm^3 /min. Os valores medidos em cinco pacientes com moléstia foram: 14,4 ; 12,9 ; 15 ; 13,7 e 13,5. Qual seria a conclusão com nível de significância de 1%?// H_0:\mu=12 H_1:\mu\neq 12 Deste modo, é obtida a seguinte região crítica: RC=\lbrace t \in \mathbb{R} | tt_2\rbrace Ao contrário do teste para média com variância conhecida que calcula valores críticos para \bar{X}, vamos utilizar para construção da região crítica valores da estatística //T//. Os valores //t1// e //t2// são extremos sob H0 e tais que : P(T < t_1)=0,01/2~~ P(T > t_2)=0,01/2 Com 4 graus de liberdade, estes valores são : t_1=-4,604 ~~t_2=4,604 Repare que a simetria da distribuição normal se aplica também à distribuição t de Student. A Região Crítica (RC) é formada então pela união dos dois intervalos abaixo: RC=\lbrace t \in \mathbb{R } | t \in (-\infty ; -4,604) \cup (4,604 ; \infty)\rbrace Para concluir sobre o teste, basta situar a posição da estatística observada em relação à Região Crítica. t_{obs}=\dfrac{\bar{x}_{obs}-12}{s_{obs}/\sqrt{5}}=t_{obs}=\dfrac{13,90-12}{0,82\sqrt{5}}=5,18 O valor 5,18 pertence a Região Crítica, logo esta amostra de tamanho //n=6// fornece evidências a favor da hipótese alternativa. Logo, rejeitamos H0, sob o nível de significância de 1%. ===== Testes Chi-quadrado ===== [[http://leg.ufpr.br/~silvia/CE001/node49.html|Testes Qui-quadrado para Tabelas de Contingência]]