Aspectos Gerais da Distribuição de Freqüências

Ao estudarmos a distribuição de freqüências de uma variável quantitativa, seja em um grupo apenas ou comparando vários grupos, devemos verificar basicamente três características:

O histograma (ou o diagrama de pontos, ou o ramo-e-folhas) permite a visualização destas características da distribuição de freqüências, como veremos a seguir. Além disso, elas podem ser quantificadas através das medidas de síntese numérica (não discutidas aqui).


Tendência Central


A tendência central da distribuição de freqüências de uma variável é caracterizada pelo valor (ou faixa de valores) típico da variável.

Uma das maneiras de representar o que é típico é através do valor mais freqüente da variável, chamado de moda. Ou, no caso da tabela de freqüências, a classe de maior freqüência, chamada de classe modal. No histograma, esta classe corresponde àquela com barra mais alta ("pico").

No exemplo dos ursos marrons (Figura 13), a classe modal do peso dos ursos fêmeas é claramente a terceira, de 50 a 75 kg. Assim, os ursos fêmeas pesam, tipicamente, de 50 a 75 kg. Entretanto, para os ursos machos, temos dois picos: de 50 a 75 kg e de 150 a 175 kg. Ou seja, temos um grupo de machos com peso típico como o das fêmeas e outro grupo, menor, formado por ursos tipicamente maiores.

Dizemos que a distribuição de freqüências do peso dos ursos fêmeas é unimodal (apenas uma moda) e dos ursos machos é bimodal (duas modas). Geralmente, um histograma bimodal indica a existência de dois grupos, com valores centrados em dois pontos diferentes do eixo de valores. Uma distribuição de freqüências pode também ser amodal, ou seja, todos os valores são igualmente freqüentes.


Variabilidade


Para descrever adequadamente a distribuição de freqüências de uma variável quantitativa, além da informação do valor representativo da variável (tendência central), é necessário dizer também o quanto estes valores variam, ou seja, o quão dispersos eles são.

De fato, somente a informação sobre a tendência central de um conjunto de dados não consegue representá-lo adequadamente.

A Figura 19 mostra um diagrama de pontos para os tempos de espera de 21 clientes de dois bancos, um com fila única e outro com fila múltipla, com o mesmo número de atendentes. Os tempos de espera nos dois bancos têm a mesma tendência central de 7 minutos. Entretanto, os dois conjuntos de dados são claramente diferentes, pois os valores são muito mais dispersos no banco com fila múltipla.

Figura 19: Ramo-e-folhas dos tempos de espera (minutos) dos clientes.
\begin{figure}\centerline{\psfig{figure=figuras/pontos2.ps,height=1.5in}}
\end{figure}

Assim, quando entramos num fila única, esperamos ser atendidos em cerca de 7 minutos, com uma variação de, no máximo, meio minuto a mais ou a menos. Na fila múltipla, a variação é maior, indicando-se que tanto pode-se esperar muito mais ou muito menos que o valor típico de 7 minutos.


Forma


A distribuição de freqüências de uma variável pode ter várias formas, mas existem três formas básicas, apresentadas na Figura 20 através de histogramas e suas respectivas ogivas.

Figura 20: Ramo-e-folhas da idade (meses) dos ursos fêmeas.
\begin{figure}\centerline{\psfig{figure=figuras/assimetria.ps,height=2.5in}}
\end{figure}

Quando uma distribuição é simétrica em torno de um valor (o mais freqüente), significa que as observações estão igualmente distribuídas em torno desse valor (metade acima e metade abaixo).

A assimetria de uma distribuição pode ocorrer de duas formas:

Ao definir a assimetria de uma distribuição, algumas pessoas preferem se referir ao lado onde está a concentração dos dados. Porém, outras pessoas preferem se referir ao lado onde está faltando dados (cauda). As duas denominações são alternativas.

Em alguns casos, apenas o conhecimento da forma da distribuição de freqüências de uma variável já nos fornece uma boa informação sobre o comportamento dessa variável.

Por exemplo, o que você acharia se soubesse que a distribuição de freqüências das notas da primeira prova da disciplina de Estatística que você está cursando é, geralmente, assimétrica com concentração à direita? Como você acha que é a forma da distribuição de freqüências da renda no Brasil?

Note que, quando a distribuição é assimétrica com concentração à esquerda, a ogiva cresce bem rápido, por causa do acúmulo de valores do lado esquerdo do eixo. Por outro lado, quando a distribuição é assimétrica com concentração à direita, o ogiva cresce lentamente no começo e bem rápido na parte direita do eixo, por causa do acúmulo de valores desse lado. Quando a distribuição é simétrica, a ogiva tem a forma de um S suave e simétrico.

A ogiva para uma distribuição de freqüências bimodal (Figura 21) mostra essa característica da distribuição através de um platô ("barriga") no meio da ogiva. A ogiva para o peso dos ursos machos (Figura 15) também mostra essa barriga .

Figura 21: Ramo-e-folhas da idade (meses) dos ursos fêmeas.
\begin{figure}\centerline{\psfig{figure=figuras/ogiva3.ps,height=1.5in}}
\end{figure}


Séries Temporais


Séries temporais (ou séries históricas) são um conjunto de observações de uma mesma variável quantitativa (discreta ou contínua) feitas ao longo do tempo.

O conjunto de todas as temperaturas medidas diariamente numa região é um exemplo de série temporal.

Um dos objetivos do estudo de séries temporais é conhecer o comportamento da série ao longo do tempo (aumento, estabilidade ou declínio dos valores). Em alguns estudos, esse conhecimento pode ser usado para se fazer previsões de valores futuros com base no comportamento dos valores passados.

A representação gráfica de uma série temporal é feita através do gráfico de linha, como exemplificado na Figura 22.

Figura 22: Gráfico de linha para o número de ursos machos e fêmeas observados ao longo dos meses de pesquisa (à esquerda) e taxa de mortalidade infantil de 1989 a 1997 nas Regiões Nordeste e Sul e no Brasil (à direita).
\begin{figure}\mbox{\centerline{\psfig{figure=figuras/series1.ps,height=2.4in}
\psfig{figure=figuras/series2.ps,height=2.4in}}}\\
\end{figure}

No eixo horizontal do gráfico de linha, está o indicador de tempo e, no eixo vertical, a variável a ser representada. As linhas horizontais pontilhadas são opcionais e só devem ser colocadas quando ajudarem na interpretação do gráfico. Caso contrário, devem ser descartadas, pois, como já enfatizamos antes, um gráfico deve ser o mais limpo possível.

No gráfico da Figura 22, podemos notar que a taxa de mortalidade infantil na região Nordeste esteve sempre acima da taxa da região Sudeste durante todo o período considerado, com um declínio das taxas nas duas regiões e também no Brasil como um todo ao longo do período.

Embora o declínio absoluto na taxa da região Nordeste tenha sido maior (aproximadamente 20 casos em mil nascidos vivos), a redução percentual na taxa da região Sudeste foi maior (cerca de 8 casos a menos nos 30 iniciais, ou seja, 27% a menos, enquanto 20 casos a menos nos 80 iniciais na região Nordeste representam uma redução de 25%.

Podemos observar ainda uma tendência à estabilização da taxa de mortalidade infantil da região Sudeste a partir do ano de 1994, enquanto a tendência de declínio permanece na região Nordeste e no Brasil.

Ao analisar e construir um gráfico de linhas, devemos estar atentos a certos detalhes que podem mascarar o verdadeiro comportamento dos dados.

A Figura 23(a) apresenta um gráfico de linhas para o preço médio do litro de leite entre os meses de maio e agosto de 2001. Apesar de colocar os valores para cada mês, o gráfico não mostra a escala de valores e não representa a série desde o começo da escala, o valor zero.

Essa concentração da visualização da linha somente na parte do gráfico onde os dados estão situados distorce a verdadeira de dimensão da queda do preço, acentuando-a. Ao compararmos com o gráfico da Figura 23(b), cujo escala vertical começa no zero, percebemos que houve mesmo uma queda, mas não tão acentuada quanto aquela mostrada no gráfico divulgado no jornal.

Figura 23: Gráfico de linhas para o preço médio do litro de leite: (a) original (jornal Folha de São Paulo, set/2001), (b) modificado, com a escala de valores mostrada e iniciando-se no zero.
\begin{figure}\mbox{\centerline{(a)\psfig{figure=figuras/series3.ps,height=3in}
(b)\psfig{figure=figuras/series4.ps,height=3in}}}\\
\end{figure}

Outro aspecto mascarado pela falta da escala é que as diferenças entre os valores numéricos não correspondem às distâncias representadas no gráfico.

Por exemplo, no gráfico de linha divulgado para a série do preço do leite, vemos que a queda no preço de maio para junho foi de R$0,02 e, de julho para agosto, foi de R$0,04, duas vezes maior. No entanto, a distância (vertical) entre os pontos de maio e julho é maior do que a distância (vertical) entre os pontos de julho e agosto!!

E mais, a queda de junho para junho foi de R$0,05, pouco mais do que a queda de R$0,04 de junho a agosto. Porém, a distância (vertical) no gráfico entre os pontos de junho e julho é cerca de quatro vezes maior do que a distância (vertical) dos pontos de julho e agosto!!

Examinando o gráfico apenas visualmente, sem nos atentar para os números, tenderemos a pensar que as grandes quedas no preço do leite ocorreram no começo do período de observação (de maio a julho), enquanto, na verdade, as quedas se deram quase da mesma forma mês a mês, sendo um pouco maiores no final do período (de julho a agosto).

Além disso, a palavra despenca nos faz pensar numa queda abrupta, que é o que o gráfico divulgado parece querer mostrar. No entanto, analisando o gráfico da Figura 23(a), que corrige essas distorções, notamos que houve sim uma queda, mas não tão abrupta quanto colocada na Figura 23(b).

A Figura 23 mostra os efeitos na representação de uma série temporal quando mudamos o começo da escala de valores do eixo vertical. À medida que aproximamos o começo da escala do valor mínimo da série, a queda nos parece mais abrupta. A mesma observação vale para o caso em que o gráfico mostrar um aumento dos valores da série: quanto mais o início da escala se aproxima do valor mínimo da série, mais acentuado parecerá o aumento.

De maneira geral, um gráfico de linhas deve ser construído de modo que:

Figura 24: Efeitos da mudança no início e/ou final da escala do gráfico em linhas da série temporal do preço do leite.
\begin{figure}\mbox{\centerline{(a)\psfig{figure=figuras/series5.ps,height=2in}
...
...ps,height=2in}
(c)\psfig{figure=figuras/series7.ps,height=2in}}}\\
\end{figure}

Figura 25: Efeitos de alterações na dimensão horizontal do gráfico de linhas da série do preço do leite.
\begin{figure}\mbox{\centerline{(a)\psfig{figure=figuras/series8.ps,height=2.5in...
...\centerline{(c)\psfig{figure=figuras/series10.ps,height=2.5in}}}\\
\end{figure}

silvia 2012-09-20