Entrevista com o Professor Lineu Alberto

| Outubro 31, 2023

O Professor Lineu é Bacharel em Estatística, Mestre em Informática e professor substituto no Departamento de Estatística da UFPR e foi calorosamente indicado para ser nosso primeiro entrevistado nesse série de entrevistas que visam explorar a aplicação da Estatística no dia a dia. Descreve sua principal área de atuação como Estatística e métodos estatísticos aplicados em Ciência de dados, com ênfase em modelos de regressão. Sua home page é https://lineu96.github.io/

Poderia se apresentar e falar um pouco da sua jornada, como é que você descobriu o seu interesse pela área de estatística?

Essa é uma história legal, porque eu sou atleta, jogador de vôlei já faz muitos anos, desde as categorias de base. Eu ia fazer educação física ou fisioterapia. Eu estava com isso muito claro na minha cabeça. No ensino médio eu tive um professor de história que em uma das dinâmicas ele falou assim: “ó pessoal, todo mundo já está meio definido o que que vai querer fazer, mas eu quero que vocês tragam uma outra opção”. E vou eu pesquisar. E afundei nas engenharias e fui pra tudo e não achava nada. E no terceiro ano, tropecei na estatística. Esse negócio é legal. Trabalhar com dado e analisar dado, modelo preditivo, etc. Eu fiz uma apresentação sobre estatística. E o professor que me motivou, ele falou “você está maluco, estatística é coisa de doido. Ninguém gosta de estatística”. Mas eu gostei da ideia. Eu achei legal.

A ideia é interessante e eu gostava de matemática, tinha uma relação muito boa com o professor de matemática no colégio. Sempre tinha dinâmicas muito interessantes.

Professor Lineu ao centro

No fim das contas na semana do vestibular eu ainda estava naquela: vou pra educação física? Vou pra fisioterapia? Talvez estatística. E acabei decidindo Estatística. E nunca me arrependi. Eu me encontrei muito no curso.

Fiz a graduação em Estatística na UFPR de 2014 até 2019. Em 2020 eu comecei o mestrado na informática também aqui na universidade. Fiquei até 2022 e depois já abriu processo seletivo pra professor substituto que eu fui aprovado. E em 2023 eu já estava como professor aqui no departamento.

O senhor se lembra de um desafio específico que te deu muito trabalho, mas no final você percebeu que aprendeu bastante?

Esse problema do comportamento animal. Eu queria fazer alguma coisa diferente. Eu já estava com essa cabeça de sair da caixinha das disciplinas da graduação. Quero um negócio diferente. O Professor Cesar [Taconeli] me deu a disciplina de modelos lineares generalizados que foi, de longe, a minha disciplina preferida do curso. Eu falei: “professor, eu quero fazer alguma coisa, tem um problema legal pra analisar?”. Ele me deu algumas sugestões, e eu gostei desse problema do comportamento animal. O Cesar me orientou e mais pra frente o professor José Padilha também me deu muito apoio.

Esse problema foi o primeiro dado de verdade que eu analisei. Primeiro dado que não era de livro, não era de brinquedo, dado real. Um experimento em que a pesquisadora estava interessada em avaliar o comportamento de ovelhas. Como é que você mede o comportamento do bicho? Não é uma resposta numérica, como um peso, uma altura. Você pode gerar diferentes variáveis aleatórias, e o que a pesquisadora gerou? Número de vezes que o animal mexia a cauda. Número de vezes que o animal mexia a orelha, o corpo, o olho. Isto é, contagens. E um outro conjunto de respostas, a proporção do tempo que o animal movimentou a orelha, proporção do tempo que o animal permaneceu fazendo outras coisas. É um problema.

Ovelha durante o experimento

Comportamento animal não é uma característica que é mensurável. Você tem essas coisas aproximadas que se interpreta no contexto do comportamento animal. Por exemplo: “ah o bicho está mexendo a cauda. Opa, então aparentemente ele está confortável”.

Na estrutura do experimento tinha, por exemplo: medida repetida em diferentes momentos. Tinha covariável como intervenção humana. Você avaliava o momento, o indivíduo, o animal. Em três momentos distintos e em três condições distintas: antes da intervenção, durante a intervenção e após a intervenção.

Isso gerava uma estrutura experimental que na modelagem você tinha que tratar. Não era simplesmente fazer um modelo linear e Y em função de X. Esse tipo de coisa me deu muita cancha. Foi um dado que eu levei muito tempo pra analisar pela inexperiência, e por ser um problema real com problemas do mundo real, muita resposta, muitas variáveis com alguma característica

Qual era o interesse da pesquisadora em medir o comportamento animal?

Ela tinha vinte ovelhas criadas em cativeiro que eram de duas linhagens genéticas e ela queria avaliar se havia diferença no comportamento do animal quando em contato com o ser humano. E além disso ela queria avaliar a respeito do isolamento social: se existia a diferença do comportamento do animal quando ela estava isolada do grupo.

Professor muito obrigado pela sua presença, pelo tempo que você disponibilizou pra gente.

Eu que agradeço! Sempre bom poder compartilhar um pouquinho da minha trajetória.

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