| Novembro 5, 2023
Você sabia que mais de 30 mil pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito no Brasil? Esse número é equivalente a, no mínimo, uma morte a cada vinte minutos. De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde de 2022, os acidentes de trânsito, também chamados sinistros de trânsito, constituem a principal causa de morte para crianças e jovens entre 5 e 29 anos de idade. Estamos vivendo uma epidemia silenciosa que mata os mais vulneráveis: pedestres, ciclistas e motociclistas, que juntos correspondem a mais da metade de todas as mortes no trânsito no mundo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).
Neste cenário crítico de mortalidade, podemos nos perguntar: o que os governos municipais, estaduais e federal estão fazendo para reduzir o tamanho dessa tragédia? O fato é que os esforços nacional e internacional não recentes. Desde o início do milênio, houve tentativas de implementação de políticas públicas eficazes para redução da acidentalidade no trânsito.
Em 2011, a Assembleia Geral das Nações Unidas promulgou a Década da Ação pela Segurança no Trânsito, que tinha como meta estabilizar e reduzir em até 50% os acidentes de trânsito em todo o mundo (ONSV, 2018). Infelizmente, o Brasil foi insuficiente, alcançando pouco mais de 30% do objetivo, ou seja, pouco se avançou na conquista da segurança no trânsito (ONSV, 2020).
Estudos de trânsito tentam definir o número de acidentes como uma distribuição de probabilidade Poisson, considerando os sinistros como eventos estatisticamente independentes (Bastos, 2011) ou Binomial Negativa, dado que variância e média são diferentes (Boffo, 2011). Não se assuste com esses nomes, são apenas abordagens estatísticas de definir a aleatoriedade.
No livro “Segurança Viária”, pesquisadores ligados à USP revelam que o combate à acidentalidade viária somente tem êxito se pautado por enfoque científico, que envolve a coleta de dados, com seu tratamento e análise. Além disso, apontam que há necessidade de aprimoramento das informações sobre acidentes (Ferraz et al., 2008). O mesmo livro ressalta a importância vital dos dados para quantificar os sinistros em um determinado espaço geográfico e para identificar características mais comuns nos acidentes, visando a elaboração de planos para reduzir o número de vítimas.
É aqui que entra a importância da Estatística na sua segurança diária como usuário de trânsito. Se o Brasil, com auxílio dos estados e distrito federal, investir mais em políticas públicas voltadas a dados, os índices de mortalidade e acidentes graves de trânsito poderão reduzir.
Uma triste notícia é que parece que vivemos um apagão dos dados. De acordo com o Boletim de Logística “Perfil da Acidentalidade do Modo Rodoviário no Brasil” (ONTL, 2023), os dados provenientes do Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas do Trânsito (RENAEST) ainda necessitam de maior consistência. O mesmo boletim destaca que ainda não há uma única base de dados consolidada que permita a identificação de sinistros de trânsito em todas as vias do país. Vale dizer que o RENAEST é a principal base de dados de sinistros de trânsito no Brasil. Essa falta dos dados impede a formulação de políticas públicas específicas de prevenção e combate a acidentes graves e letais de trânsito.
Portanto, a segurança das nossas vidas está diretamente ligada à capacidade do governo de coletar, tratar e disponibilizar os dados de trânsito, a fim de desenvolver políticas de segurança viária. O professor Dr. Jorge Tiago Bastos, do Departamento de Transportes da UFPR, em sua entrevista ao projeto de extensão do DataSciLabs, afirmou que “a Estatística e os dados têm papel fundamental nos estudos de segurança no trânsito”.
Apesar das dificuldades, ainda há esperança: iniciativas como o Maio Amarelo e o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS) são tentativas de melhorar a situação de segurança no trânsito no Brasil. No entanto, enquanto a administração pública não entender a importância fundamental da Estatística na vida cotidiana dos cidadãos, será difícil superar a epidemia silenciosa que afeta nosso país.